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MEMÓRIAS DE SANTO RICARDO VOLPATO

 

O Avelino entregava leite na cidade e aos domingos levava consigo um dos irmãos menores, para, após a entrega do leite, ir à matinê no cinema. E foi num desses domingos que eu peguei uma garupa no burrico e fui junto com ele à cidade. Ao chegarmos numa casa que compravam leite, o Avelino desmontou, pegou três litros do mesmo e foi entregá-lo na porta dos fundos. Neste dia como estava chovendo e eu não tinha capa, minha mãe emprestou sua sobrinha, e estava eu ali, montado no burrico de sombrinha aberta na mão. Lá passando um policial indagou: - como é teu nome? Eu nada. – Quem é teu pai? Eu firme. – Pois vou levar você preso, disse o policial. Eu querendo chorar, mas de tanta tensão nem isso eu conseguia. – Pois é, continuou o policial, um homem não pode andar de sombrinha na mão, muito menos aberta! E logo, vendo meu estado  lastimável disse: - Por essa vez não vou levá-lo, mas vê lá hein!  Nunca mais sombrinha em minha mão.

 

Num dia de feriado, e por isso não fui à escola, eu e o Avelino, ao voltarmos da roça pelo meio meio-dia, viemos pelo mato e não pela estrada, para, disse ele, encontrarmos novos pés de jabuticaba. Eu trazia na mão uma espingarda taquari, essas de carregar chumbo pelo cano. A certa altura do caminho, feito pelo meio de um taquaral, ele deu um grito acompanhado de um enorme salto e eu pude ver uma enorme cobra com as presas em seu calcanhar. Corremos muito, até chegarmos em casa. Não fosse meu pai tomá-lo no colo, montar num cavalo e correr para o hospital, com certeza ele teria morrido, visto que sua perna já estava toda rocha

 

Foi o Avelino quem me ensinou a dirigir, porém muito pouco, pois ele tinha um caminhão em sociedade com o Romano Massignan, e só fez uma viagem para Itajaí comigo porque o caminhão dele estava em reformas. Nesta viagem eu tinha de aprender na marra, porque ele não pegou no volante a não ser nas cidades (de) Rio do Sul, Blumenau e Itajaí.Na volta da viagem, emocionado por ter conhecido o mar e outras cidades, peguei firme no trabalho; embora tendo sempre um motorista experiente comigo.

 

No ano de 1965 vendi o caminhão; e com o Fermino, o Avelino e mais o Uriano, organizamos uma sociedade cujo nome era irmãos Volpato. Essa sociedade durou até 1971, quando foi desfeita após dois anos de concordata

MEMÓRIAS DE ZILIO VOLPATO

 

Nesta casa, nas proximidades da usina hidroelétrica do Reinaldo, do outro lado ro Rio do Peixe era o Itororó, uma estação da estrada de ferro, onde nasceram, além de mim, também a Rute e a Alzira, que num dia de muita sorte alguém (a Solidê) bateu uma foto, e poucos dias depois esta casa caiu, não suportando mais nem o seu próprio peso.

 

A casa era como todas as outras da época, sempre altas do chão, deixando espaço para o porão onde eram guardadas a carroça e algumas ferramentas; com dois corpos (da casa); um era a cozinha e sala de jantar, o outro era um pouco maior onde ficavam os quartos unidos por um corredor coberto, mas não fechado. Motivo: na cozinha com fogão a lenha era muito comum os incêndios, ou por acidente, cair uma brasa no chão. Quem conheceu este tipo de casa há de se lembrar que em frente ao fogão o assoalho era invariavelmente salpicado de buracos negros provocados por brasas, já iniciando um incêndio.

         A casa era coberta por telhas de madeira, feitas com um instrumento chamado “scaiarol”, tudo manual, uma a uma. Não sei se foi o pai que a construiu ou se pagou para fazer.

 

O terreno da casa devia ter mais ou menos 60 metros de frente e ia até as margens do Rio do Peixe. Mais tarde o Fermino fez uma casa ao lado direito e o Avelino outra do lado esquerdo, como vizinhos a Vilma e o Ernesto que são proprietários até hoje. Depois vinha o “Valdeco”, pai da “Dione”, depois o seu Luiz (um velho esquisito que vivia sozinho). Do lado direito eram as terras do “Alemão”, uma serraria e o Hospital (do Dr. Miguel).

A rua era de barro, sempre enlameava, ô tristeza para se ir à missa! Ou ao cinema! Sempre o sapato grosso de barro (sapato ou alpargatas)!

Foram feitos muitos projetos para ser construída uma rua entre a Avenida Santa Terezinha e o Rio do Peixe, mas o “Valdeco”, sempre era contra, e até hoje as terras dos fundos ainda estão sem rua. Estes terrenos dos fundos foram doados para nós cinco (Vitorino, Santo, Zandir, Ervino e eu (Zilio)). O Santo e o Zandir venderam logo para o Avelino que construiu uma casa para Dona Rosa morar pagando aluguel, eu vendi metade para o Ervino que é dono até hoje e a metade para o Vitorino que construiu uma casa. A dona Rosa Roglio, casada com seu Vicente, pai do Sérgio, Clarisse, Izolde, Leonir e Cesário, e minha madrinha de batismo, já morava neste terreno quando o pai comprou estas terras

 

Contam os irmãos mais velhos que este rio antes da barragem era turbulento, batendo-se entre as pedras, formando remansos; parece, ouvi dizer, que o Fermino e o Avelino extraiam areia e levavam em suas carroças e vendiam para a construção desta barragem, a usina, como sempre foi conhecida. Ainda hoje, depois desta barragem e antes da rodoviária de Joaçaba, as suas águas são turbulentas batendo-se umas contra as outras e nas pedras, como se, apostando, para ver qual chega primeiro. Depois se acalmam, parece que terminou a corrida, descem suave e lentamente, até caírem de 10 metros (?) entrelaçando-se outra vez e recomeçam a “peleja

 

O Avelino estudou numa destas salas de aula que eram ensinadas com a “cartilha”. Vinham as letras que se juntavam, formavam as sílabas e a figura correspondente à palavra, que deveria ser pronunciada no final. Assim, s + a =sa, p + o = po, (aí vinha a figura de um sapo) Então sa+po = “rospo”, dizia o Avelino.

         E a professora paciente dizia: vamos tentar de novo: sa + po = “rospo”. Não Avelino, vamos tentar outra vez: blá,blá, blá, = ... “Rospo”.

Acontece que o Avelino só conhecia a figura ao lado como “Rospo” que significava sapo em dialeto Vêneto do Italiano

 

O Avelino viu o seu caminhão novo, pegando fogo, não hesitou em apagar o fogo com as próprias mãos e uma coberta velha. Fez queimaduras de 3º grau, mas venceu até o último sinal de chamas. Seguro? Nem pensar!

 

Tem uma estória de uma carroça que capotou, não me lembro com quem, nem quando, nem onde.  Eu não sei como estes caras sobreviveram a tanto. Eles faziam uma viagem junto com um irmão que sabia dirigir e na outra semana, estavam na estrada sozinhos com seu próprio caminhão.Fermino, Avelino, Santo, Uriano. Vitorino com um caminhão da prefeitura. Ervino, Zilio...

(abortadas as lições quando a mãe me viu passando em frente da casa, dirigindo, em pé, um alfa -Romeu, sozinho, porque o Ervino ficara no bar com os outros irmãos e amigos dizendo: “leve o caminhão até lá em casa)”.

         O Avelino após breve aula teórica pegou sozinho o caminhão do Fermino. Engatou a 1ª marcha, foi para frente, parou. Engatou a ré... Patina e patina e não sai do lugar. “Mas que é que tem o caminhão que ronca, ronca e não vai?” Num tranco forte... Ufa! conseguiu fazer a volta do caminhão. O pai foi olhar. O pára-choque parecia uma “limpa trilho” de trem. O pára-choque tinha engatado num toco de pinheiro na frente de casa.

 

FATO II – O Avelino, mandou um empregado embora apelidado de “Polaco” só, que (o) ameaçou de morte. O Avelino (então) só andava armado. Dormia com o “38” na cabeceira da cama. Um dia, no bar do CARMINAT, na Avenida Santa Terezinha, próximo à Igreja, o Avelino viu o “Polaco”, chegou e pediu uma cachaça. Antes de ser servido, o Avelino falou forte e com segurança:

Bebe esta cachaça e vai embora, senão, vai ser a última cachaça de tua vida.

O “Polaco” bebeu sem falar nada. Virou as costas e andou uns 20 metros, parou e voltou. O Ervino estava junto e contou com os detalhes, e pensou na hora: “vai dar merda!”.

         O Avelino puxou a arma e atirou só uma vez. O “bandido” caiu e foi levado ao hospital do Dr. Miguel, ali bem próximo, que retirou a bala do lado esquerdo, imobilizou a clavícula fraturada e nunca mais se ouviu falar ou ver o “Polaco”. E ficou tudo por isso mesmo. (E a história do caíco?).

 

Avelino – Barbaridade! Vai faltar papel e tinta para contar a epopéia deste homem. “Mas como foi pedido um resumo: ele divide o 1º lugar como melhor motorista da família com outro muito “braço”“ também. Este camarada estudou três anos numa escola junto com 1ª, 2ª, 3ª e 4ª séries. Uma “zorra” de aula, com uma professora semi-analfabeta. E mesmo assim, fazer as contas de cálculos complicados, só na “cabeça”, sem papel e muito menos calculadora, juros, percentagens, quantidade no estoque, entradas e saídas

Histórias do Avelino

Créditos - Memorial Volpato(Zilio e Ana Zaira,  

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