Diretor do site SERGIO LUIZ VOLPATO

FAMILIA VOLPATO
RAILDE VOLPATO CORBANI
Eu morava com Mamãe, mais a irmã Raide e um amigo da família e empregado
da firma, chamado Alderico. Minha mãe vivia muito doente, com diabete, varizes e constantemente com pressão arterial alta. Lembro que eu me levantava sempre cantarolando para não dar a demonstração do profundo abatimento (de) que era possuído pela noite mal dormida. Ela não cansava de repetir: - Meu filho, faça o Sinal da Cruz antes de tudo!
Nesta casa, nas proximidades da usina hidroelétrica do Reinaldo, do outro lado ro Rio do Peixe era o Itororó, uma estação da estrada de ferro, onde nasceram, além de mim, também a Rute e a Alzira, que num dia de muita sorte alguém (a Solidê) bateu uma foto, e poucos dias depois esta casa caiu, não suportando mais nem o seu próprio peso.
Vocês devem estar pensando: “O Zilio esqueceu de mencionar o banheiro”. Não havia banheiro nenhum. As mulheres e moças da casa faziam as necessidades fisiológicas no pinico e nós urinávamos sobre o telhado do sótão.
Neste ano então foram vendidas as terras agrícolas do Itororó. Todos os irmãos mais novos, inclusive a mãe, menos as filhas, pois, as mulheres não recebiam heranças. Neste tempo todo tive também muito apoio da Railde em todos os sentidos
Neste mês de julho (l3/07/1963) o Zandir estará completando 40 anos de casado e comecei a recordar da viagem para chegar em tempo na festa.
Esta viagem foi uma epopéia. Saímos na quinta feira com o Vitorino dirigindo, mais a Railde e eu. Dormimos pouco antes de chegar a Curitiba e logo cedinho o Vito comprou nossas passagens para Londrina pela Viação Garcia, mas o ônibus sairia somente as l9: 00 hora e nosso irmão conhecia bem eu e a Railde e achou melhor ficar conosco até embarcarmos, pois sabia do risco de nós nos matarmos a tapas e mordidas. Vocês não conheciam a Railde, mas ela era ruim, e era a princesa dos irmãos mais velhos; e, esperta, usava isso como chantagem. Só quem tem uma irmã mais velha sabe compreender esta situação.
Embarcamos, e vocês podem imaginar a briga já começou, ou talvez simplesmente continuasse; sei que o banco de dois lugares era pequeno demais para nós dois. A máquina fotográfica caiu no chão; a Railde deu um chute nela e eu tive que ir buscá-la, e sempre com as ameaças: “vou contar tudo p´rá mãe”. A estrada era de chão, 14 horas de viagem era o previsto, poeira, as pessoas entravam com galinhas, verduras; um “pinga-pinga desgraçado”; suor e sovaco solto pelo corredor; era proibido fumar charutos e cigarros de palha. Dormir? Nem pensar, era cochilar, pender para o lado e levar uma cotovelada da Railde.
O dia amanheceu, a terra vermelha fazia a poeira ficar mais espessa; as janelas sempre fechadas; a cada limpada de nariz eram dois tijolinhos que saiam.
Finalmente IBIPORÃ! A mãe, o Zandir e a Natalina nos esperando. Enquanto o motorista do ônibus tirava nossas malas, demos por falta da máquina fotográfica. Procura e procura e lá estava em baixo do banco do motorista. Adivinhem quem levou a culpa?
Pensei que o purgatório havia acabado! Qual nada era o inferno que estava começando. Ouvir todas a queixas, denúncias e reclamações da Railde p´rá Mãe e ela com toda a paciência do mundo só dizia: “Releve”, “releve”, “releve”.
A recepção por parte da família da Natalina, não poderia ter sido melhor; irmãos, irmãs, Seu Francisco, Dona Aparecida. A casa simples, num sítio rodeado de pés de café e eu com sono, muito sono.
Durante a cerimônia de casamento eu acho que dormi, porque não lembro de ter ouvido o “sim” dos noivos ou visto o tal beijo que a “Néia” falou.
Durante a festa teve um gostoso churrasco, cerveja sempre à disposição. A festa continuou com um baile no terreiro coberto com uma lona e de tempos em tempos, alguém molhava a terra para não levantar tanta poeira; aquela dos tijolinhos.
Já de madrugada, com muito sono, fui procurar pela Mãe que tinha um quarto reservado na casa; pensava em tirar uma soneca depois de tanta festa e uma noite toda viajando sem dormir. Encontrei a mãe e a Railde dormindo. A minha irmã para não perder o costume, xingou, esbravejou e me expulsou para fora. Aí coitadinho de mim, tive que ficar a noite toda na festa!
Amanheceu de novo e fomos conhecer Londrina a alguns poucos quilômetros dali, imensos cafezais; hoje as duas cidades são como se fosse uma só. À tarde, fomos ao cinema (sessão dupla). Boa oportunidade para namorar! Qual nada! Mal as luzes se apagaram, eu “desmaiei” de sono.
À noite viajamos para São Paulo; não lembro mais nada, devo ter dormido o tempo todo.
Mas foi um tempo muito bom, lembro destas poucas coisas com saudades desta irmã tão querida hoje; deste irmão que faz 40 anos de casado; daquele irmão que não foi na festa, mas que tornou possível que nós estivéssemos lá; de nossa Mãe que com paciência, sabedoria e inteligência sempre nos manteve unidos.
29/maio/2003
Railde – Esta menina é bonita! Partiu corações em Joaçaba – o Corbani é um cara de sorte. Nós brigamos muito na juventude e na infância, mas eu te amo muito “mia sorella”.
Railde – Ainda solteira, parecia que era ela quem iria estudar em Curitiba. Os seus olhos brilhavam e sempre recomendando “me escreva”!
Railde – outra vez, agora pelas mãos do Corbani. Mesma coisa do Avelino, com produtos coloniais. Na verdade, nós três éramos os legítimos atravessadores, mas justifico – todos sobreviviam e os produtores tinham seus produtos nas vitrines.
Histórias da Railde

Créditos - Memorial Volpato(Zilio e Ana Zaira)